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Rocknrollando no Recife Antigo

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Esta não é uma resenha tradicional das que você vê no RecifEstranho. Digamos que o texto a seguir serve de inspiração para quem quer ter uma noite de rock n' roll sem gastar tanto dinheiro em um dia comum no Recife - na ausência, claro, dos tradicionais shows de graça. Prometo que vou me segurar no vocabulário por respeito aos leitores.

A noite da última sexta-feira começou com uma saída para o bom e velho Empório, na Rua da Hora. Eu, Johnson e Raul, amigos de longa data de faculdade, colocávamos o papo em dia, uma vez que Johnson voltava de uma longa temporada morando no Rio de Janeiro.

Sobre o Empório, não tem muito o que falar. Todo mundo sabe que lá se vende a "melhor tripinha da história de todas as tripinhas da humanidade". O caldinho, todos dizem que é uma m... Mas como não tenho muita frescura e sou viciado em feijão, tomei o meu junto com um prato de queijo coalho acebolado.

Os papos sobre os dias da juventude ativaram uma adrenalina antiga em nossos sangues. Aquele encontro não poderia começar e morrer ali na zona norte. Olhando na Agenda Recife, as opções eram variadas, indo de Calourada de Medicina com show de João do Morro a Gilliard no Manhattan.

A noite, no entanto, era de rock n' roll.

Pegamos um táxi por volta das 23h53 e seguimos para o Burburinho, com menos dinheiro no bolso do que deveríamos. Menos mal que o garçom do Empório não colocou o queijo e contou uma cerveja a menos na hora da conta. O taxista, gordinho e com uma camisa desabotoada e suada, se juntou ao nosso papo sobre os livros de Charles Bukowski.

Descemos na Madre de Deus e primeiro fomos para a rua atrás do bar para ficar na "arquibancada dos lisos". Dava pra escutar o som todo por ali sem precisar pagar, mas como não tinha mais ninguém lá, resolvemos ir para o outro lado. Tava tocando a Fab2Beatles, uma dupla boa que manda um Beatles (é nada...) nos violões.

Depois ia ter um cover de Steve Ray Vaugh e a proposta era interessante, mas o preço nem tanto. Tava R$ 20 por cabeça. Isso sem contar a cerveja cara lá dentro. Não valia. Fomos rodar e procurar a sorte na Rua da Moeda.

E ela atendeu pelo nome de Sushi Digital. Chegamos e estava começando um power trio. O equipamento dos caras era bem simples, diga-se de passagem, mas sempre que eu passava na frente desse bar tava rolando um som de primeira. Demos uma chance. E foi do c@R&7H0!

Rolou som de primeira no Sushi Digital, mas o coitado do baixista acabou fora da foto.
Além de mandarem bons blues, tocaram uma versão fiel da épica Shine on Crazy Diamond, de Pink Floyd, e uma mais livre de Black Magic Woman, de Santana. O couvert era de R$ 4 por pessoa, mas se você consumisse acima de R$ 30 não pagava a taxa. A cerveja mais barata era Devassa, por R$ 5. E ainda aceitava cartão, o que dava para aliviar nossa bronca do pouco dinheiro.
Boas opções de cerveja para quem não tava afim de escutar o som em pé.
Atrás da gente, dava para escutar um som pesado em um bar cheio de metaleiro. Johnson, o único solteiro do grupo, viu uma roqueira gostosinha (posso usar esses termos aqui, editores?) e ligou o botão caçador. Quando passamos de nossa cota de R$ 30, seguimos para esse lugar cujo nome não me recordo.
Banda de metal cujo nome não me recordo mas vou perguntar a Wilfred depois.
A entrada era R$ 25 para cada, mas depois de 1h30 tudo se negocia. Com R$ 40 (barganha feita por Raul), entramos os três para escutar o som. Eu não tenho preconceito com metal pesado. Já tive uma banda cover de System of a Down. Tomamos mais alguns latões de skol lá dentro, a R$ 3, e já estávamos prontos para entrar na porrada das rodas de pogo. Até encontrei o amigo Wilfred, vocalista do Cruor.

- Se tiver qualquer bronca aqui, diz que tu é meu amigo - ele me falou, depois de perguntar como diabos eu tinha parado ali.

Johnson, com sua camisa xadrez branca, poderia se passar por um playboyzinho. Foi o alvo predileto dos metaleiros nas rodas. Bom, até eu dei porrada nele. Mas quem entrou em roda de pogo sabe que há muita pouca maldade. A vibe mesmo é descarregar, suar, deixar umas marcas e levar outras pra casa. Briga é difícil de acontecer - mais fácil ter em show de forró (por conta de mulher) ou de axé (por roubo).
Johnson, com sua camisa xadrez, se esquivando dos metaleiros.
Saímos de lá suados, bêbados e felizes. Johnson não conseguiu agarrar o seu alvo inicial, mas terminou com uma loira em beijos apaixonados. Raul, um pouco mais bêbado, fazia passos de balé atrás da garota pra fazer nosso amigo sorrir. Pegamos o táxi de volta para a zona norte depois das 3h.

- To ficando velho, mas a gente tem de fazer mais disso - falei, com o vento levemente gelado da noite recifense acariciando meu rosto. No final, o bolso não tinha sido tão agredido.

- Por mim, sim. E tu Johnson, como era o nome dela? - disse Raul.

- Sei não, 'bróder'...

Bom, seria pedir demais um pouco da memória dele.

Afinal, havia sido uma noite de rock n' roll.

Elias Roma Neto escreve para o De Episódio em Episódio e eventualmente ajudar Lorena com as resenhas do RecifEstranhO.

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