Aldemir Suco fala pelo RecifEstranhO sobre seus últimos momentos do carnaval 2013. Pode ir com ele que tá muito bom!
...por Aldemir Suco.
Sobre o ar das últimas horas essa cidade se balançava. O calor, a cerveja e os lábios coçando para roubar outras bocas. Guardando tudo que é imagem do carnaval no bolso do peito. Eu, apenas, com meu humilde latão de cerveja esperava a banda Eddie que seria a última a tocar no palco do Pátio de São Pedro, Centro do Recife. Neste ano tomei um rumo diferente de outros carnavais, não quis ser espectador de atrações, não corri de ponte a ponte para ver nenhum artista. O que eu queria ver mesmo era saborear as complexas obras e apresentações que são verdadeiros testes de resistências a corpos dos foliões: as troças. Mas a Eddie. Ops, quê isso, Eddie é Eddie e comigo tem moral. Essa eu quis ver. Além do mais, mente e alma estavam ligadas a música deles, o amor e a alegria tem sido comigo uma chama, quando não me queima, aquece.
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A única foto da postagem não foi tirada pelo autor do texto, que fique claro |
A Banda Zé Cafofinho e a Orquestra do Sucesso eram quem puxava o bonde assim que cheguei, ainda não tinha visto eles em palco, apenas histórias. Mas deu um show, com um jeitão bem escandaloso o público devolvendo tudo em ritmo de safadeza. Num gingado provocante, ensaiava um stripper, dentro de um micro vestido banhado de suor, eles não só deram pinta, deram um verdadeiro show.
Fiquei arrodeando, vendo caras, bocas, pessoas, barracas, emprestei um pouco de meus minutos disponíveis, deixei alguns abraços, beijos no rosto, opa, hummm, beijo na boca?! De leve, no travessão Galvão.
Esse show estava para duas coisas: dançar coladinho recitando Vinicius de Morais ou curtir a solidão debaixo do teto estrelado.
Quando Zé Cafofinho tocou a saideira, que foi um clássico da cantora Gretchen, e ao terminar o show o povo se dividiu em dois. Havia aqueles que queriam ver a cantora Céu do outro lado do continente e aqueles que iriam mais adiante ver Caetano, por dois pesos na bandeja achei que o show daria pouca gente, que nada. Então fiquei na minha, mais um latão de cerveja, mais um amigo, amiga, mais uma saudade matada.
Secaram as gotinhas de cerveja em minha garganta e meu pensamento lá em embaixo... E eis a anunciação, Eddie, no palco e o povo pegando fogo. Eles entraram no ritmo do público tocando Casa de Maribondo e seguindo com Veraneio que leva o nome do seu último trabalho, Veraneio (2011). Eles faziam a festa e ainda diziam que queriam a Vida Boa e o público também se esgoelando no coro.
Ai eles me pegaram na malicia e qualquer um que estava solteiro ali, presente no recinto, ao tocar Lealdade; faixa que esta em seu terceiro trabalho, de boa repercussão, o Carnaval no Inferno. Que, com o calor que estava fazendo e a quantidade de doido de tudo quanto é tipo que tinha, o título do álbum fazia jus a festa.
E no swing malandro, os casais introduziam seus passinhos de cumbia e outros por sua vez não fazia feio, bailavam sozinho mesmo, oxê?! O que é que tem? E se não bastasse o grudadinho, equilibrado, para quebrar as coisas pré-estabelecidas eles decidiram desequilibrar tudo no bailado rasgado, tocando Desequilíbrio.
Ai ninguém mais acertou o passo, outros ainda se seguraram na namorada, no latão de cerveja, vi alguns ainda se escorar nas pilastras de ferro da tenda montada. Foi quando ele decidiu chamar o Professor Erasto Vasconcelos, integrante e idealizador de muitas musicas, que como diz a música, Pode Me Chamar Que Eu Vou, ele veio, trazendo consigo um portal do qual sugou todos para campo dimensional e aonde, o próprio, era o guia do furo no tempo, e lá mostrou uma antiga Olinda. Com parquinhos, sapatos conga, laços de fita na cabeça, bailinhos, carrossel, tempo este que tinha rio e que se tomava banho de maré quando enchia, e no mangue tinha xié, soconuianu, inoré, siri, aratu, unha de véio, guaximi, carangueijo. E tinha tudo isto. Depois que o Professor trouxe toda cambada de volta deixando sãos e salvos no Baile de Betinha.
Mas ali tinha O Amargo, e era eu, pedindo uma cachaça porque não queria beber cerveja. Entre um gole e outro, um cigarro, estava, acunhando com uma dama que se esforçava para por um riso na minha boca. E o cigarro deixava? E todo mundo nesta nostalgia. O show e o carnaval retornando para o fundo de nossas fantasias, mas não assim, Fabio Trummer (vocalista) com a cabeça de La’Ursa no palco pediu para Olinda toda descer ladeira e todos desceram cantando pô pô pô pô pô pô pô pôôô seguindo junto com o carnaval e o show que se encerrava retornando para nossos corações alegres, amantes, canalhas, falsos, palhaços, misteriosos, coração que batem em comum na multidão. O folião só é mais um que já conta nos dedos à hora do carnaval recomeçar para se iludir de novo.
E eu na avenida de novo... Oh Quarta-feira ingrata chegou tão depressa, só para maltratar.